Novela da Globo incomoda o agronegócio brasileiro

Para Bené Romano, a novela "Terra e Paixão" apresenta uma visão deturpada. Não há mais espaço para os coronéis e o agro, que alimenta o Brasil, deve ser valorizado e não repudiado.

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Antônio La Selva (Tony Ramos) é um latifundiário que faz de tudo para aumentar o patrimônio e o poder.
Foto: João Miguel Junior/TV Globo

Para a falar a verdade, eu nunca fui muito de acompanhar novelas e ultimamente não tenho assistido quase nada de televisão, exceto algum filme ou série que seja bem recomendado.

Na minha opinião, a qualidade dos programas da TV aberta se deteriorou bastante nos últimos anos, partiram para o apelo de quanto mais sangue, sexo e notícias ruins, mais audiência terão. Além disso, é terrível ver o quanto não têm isenção política, pois normalmente estão vendidos para esse ou aquele lado, o que é péssimo.

Mas voltando às novelas, outro dia li alguns comentários sobre a novela das 9 (da noite) que está passando na Rede Globo, o que para mim, é novidade, pois sempre ouvi falar em novela das 8, que na verdade nunca começava realmente às 8 horas da noite, não é mesmo?

Em função desses comentários, resolvi então procurar mais informações sobre essa novela, para no mínimo, ter alguma opinião.

Iniciada no dia 8 de maio, com o nome Terra e Paixão, assinada pelo conhecido dramaturgo Walcyr Carrasco, a trama é ambientada na fictícia cidade de Nova Primavera, no Mato Grosso do Sul.

Além de temas relacionados à realidade brasileira como homossexualidade, violência doméstica, o tráfico de drogas e a exploração sexual, a novela aborda também o agronegócio.

Conforme a crítica especializada, o autor repete fórmulas já usadas em outras obras, como o filho rejeitado pelo pai por ter causado a morte da mãe no parto, a mocinha sofredora que enfrenta mil obstáculos para ser feliz, o casal de trans que luta contra o preconceito, o segredo que envolve a origem dos personagens e a disputa por herança.

Mas independente dessa fórmula clichê que faz com que a obviedade esteja presente, deixando claro o que vai acontecer já no próximo capítulo, vamos tratar aqui das abordagens que a novela faz em relação ao Agronegócio.

A trama tem como um dos protagonistas um poderoso fazendeiro, latifundiário, que utiliza da força e dinheiro para lutar por terras, briga por posse de água, desrespeita as leis e o direito alheio. Imagem bem diferente da realidade do verdadeiro produtor brasileiro que atua na lida do dia a dia no campo.

Sabemos bem o quanto a imprensa critica o Agro, os artistas se manifestam contra o agro, os professores ensinam contra o Agro, os políticos votam contra o Agro, os jovens estudantes gritam contra o Agro, a população das grandes cidades não o conhece, mas é contra o Agro.

E se não bastasse tudo isso, uma emissora de TV exibe uma novela em horário nobre para mostrar a milhões de brasileiros uma imagem depreciativa desse importante segmento para nosso país, preferindo estigmatizá-lo de forma negativa, como se estivéssemos nos tempos dos coronéis.

O agronegócio do Século XXI é moderno, é tecnológico, é eficiente e produtivo.
As novas gerações estão assumindo posições de liderança no Agronegócio brasileiro, seja nas fazendas, nas empresas familiares ou em grandes corporações, com uma mentalidade cada vez mais conectada com a questão ambiental, social e de gestão.

Não existe mais espaço para o “coronel” apresentado nessa novela, pois o mundo mudou, as relações de trabalho se modernizaram, a questão ambiental é essencial para a produtividade e a inovação tecnológica chegou definitivamente no campo.

A distorção que a novela faz do Agronegócio é um grande desserviço não só ao setor, mas também ao Brasil, pois nos últimos anos a economia foi mantida pelo Agro.

Prova disso é que em 1º de junho o IBGE apresentou o resultado do PIB brasileiro do 1º trimestre de 2023, com crescimento de 1,9% contra os 1,3% que eram previstos. E o grande motivador desse resultado positivo veio da agropecuária, que teve aumento de 21,6% em comparação ao trimestre anterior, enquanto a Indústria e o setor de serviços cresceram apenas 0,1% e 0,6%. Ou seja, novamente o Agro sustentando a economia brasileira.

Mesmo sendo uma obra de ficção, essa novela da Rede Globo quer apresentar ao seu público uma imagem distorcida, bem diferente do que se vê no interior do Brasil onde o Agro está presente, a taxa de desemprego é menor que nas cidades mais urbanizadas, existe uma produção agrícola e agroindústria que gera empregos, renda e impostos.

Será que a novela Terra e Paixão da Rede Globo vai dizer que o Brasil vai bater recorde na safra de grãos ultrapassando 300 milhões de toneladas? Vão mostrar que o Brasil exportará mais de 150 milhões de toneladas de grãos se tornando o maior exportador global, se consolidando como uma das maiores potências agroalimentares do mundo?

Irão apresentar dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em que o Brasil é responsável por alimentar cerca de 10% da população mundial, ou seja, mais de 800 milhões de habitantes? Acredito que infelizmente não, pois isso a Globo não mostra!

Esse texto é uma produção independente e não representa a opinião do Patos Notícias. A responsabilidade é integral do titular da coluna.

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BIOGRAFIA

Bené Romano

Bené Romano

Engenheiro agrônomo, formado pela UFLA - Universidade Federal de Lavras. Atua como consultor em agronegócio, sendo associado ao Escritório Araújo Fontes. Apresenta, de segunda a sexta-feira, o quadro "Agro em Foco" no Jornal da Manhã da Jovem Pan Patos.

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