
Neste artigo, discutiremos sobre as causas e consequências da ansiedade nas escolas e como lidar melhor com elas.
– Recife, 08 de abril 2022. Dia de prova para alunos do ensino médio. Quase 30 alunos passaram mal com sintomas de desmaios, choro, batimentos cardíacos acelerados, pressão baixa, tremor, sudorese, hiperventilação. Tudo iniciou com uma aluna que perdeu os sentidos.
– Jarinu, interior de SP, 18 de abril de 2022. Nove alunos do ensino fundamental se cortaram com lâmina de apontador na sala de aula e no banheiro do colégio. Uma das meninas contou que os cortes foram uma forma de aliviar a dor que estava sentindo.
– Patos de Minas, interior de Minas Gerais, 17 de fevereiro de 2023. Seis estudantes foram atendidos pelo SAMU após crise de ansiedade coletiva. Durante as crises, os estudantes apresentavam respiração alterada, como se estivessem em pânico e até se debatendo.
Um mapeamento feito em São Paulo em 2021 indicou que 69% dos estudantes da rede estadual que responderam ao questionamento, relataram sintomas de Depressão e Ansiedade.
Uma pesquisa do Datafolha, mostrou que 34% dos adolescentes tem dificuldade de controlar as emoções, 24% dos alunos estão se sentindo sobrecarregados e 18% estão tristes ou deprimidos.
“A ansiedade é uma das principais emoções que afetam a vida das pessoas atualmente. Ela é uma resposta natural do corpo a uma situação estressante ou desafiadora que gera uma sensação de apreensão constante. É uma emoção que pode se manifestar de várias maneiras, incluindo sintomas físicos, como os relatados nos casos acima”, avalia a consultora de carreira Ana Flávia Campos.
“O coletivo se dá pelo fenômeno muito comum nos adolescentes chamado Contágio Emocional, que vai além de uma preocupação com o colega, mas que também são atingidos por sintomas físicos, como um efeito dominó”, completa.
O alto índice de ansiedade nas escolas pode ter várias causas, incluindo a pressão acadêmica, o bullying, a pressão social, a autocobrança, a sobrecarga de atividades curriculares e extracurriculares, as preocupações com o futuro e até mesmo problemas familiares. Além disso, a ansiedade pode ser causada por fatores pessoais, como a predisposição genética, experiências traumáticas anteriores e problemas de saúde mental. Outros fatores desencadeadores podem ser o retorno ao convívio social pós-pandemia, o ingresso no mercado de trabalho, bem como a escolha do curso, seja ele profissionalizante ou superior, que são momentos marcados por mudança, frustrações, conquistas, desconfortos, descobertas, temores, pressões, cobranças, estresse e angústias inerentes ao meio acadêmico e a adolescência.
“Os profissionais e familiares que lidam com jovens devem estar atentos a alguns sinais que podem servir de alerta, como: queda no rendimento escolar; nervosismo e atitudes violentas; mudanças de comportamento; isolamento; preocupação com o futuro, ou mesmo desinteresse; falas sobre morte; baixa estima; autopercepção negativa; autocrítica; alterações alimentares; alterações no sono. Quanto mais intensos forem os sinais maior a necessidade de se buscar ajuda especializada”, destaca a consultora.
Estudos indicam a necessidade de um apoio, seja na orientação profissional e de carreira ou seja no atendimento psicoterapêutico, de acordo com a gravidade de cada caso.
Algumas estratégias que podem ajudar os alunos a lidar com a ansiedade incluem ensinar e treinar habilidades de coping – enfrentamento, como a respiração profunda e a meditação, encorajar a prática de atividades físicas, promover um ambiente escolar seguro e acolhedor, reduzir a pressão acadêmica e fornecer apoio emocional aos alunos.
A escola é um microcosmo da sociedade em que este jovem está inserido. É preciso que a escola seja um lugar de cura, com um ambiente positivo e que atue ativamente na prevenção, inserindo momentos de descompressão ao longo da semana, com atividades lúdicas, trabalhando arte, cultura, esportes. Proporcionando atividades e dinâmicas que desenvolvam as habilidades sociais e emocionais. Promovendo debates, dar voz aos alunos, incentivar que falem sobre seus sentimentos sem que haja julgamento, preconceito, rompendo os estigmas. As redes sociais aumentaram muito o julgamento, a comparação. Percebemos hoje um medo enorme dos jovens em falar seus sentimentos por receio das “trolagens”, e a escola deve auxiliar no enfraquecimento deste mecanismo de funcionamento, ensinando o respeito e empatia com a dor dos colegas. Fornecendo palestras sobre saúde mental. Tudo isto, somado ao acolhimento psicológico a cada aluno individualmente quando necessário. Isso pode incluir encaminhar o aluno para o profissional de saúde mental, fornecer recursos para o aluno e sua família, e trabalhar em colaboração para desenvolver estratégias específicas para lidar com a ansiedade que é um desafio multidisciplinar – enfatiza a consultora.
Os Estados Unidos vêm investindo há anos em políticas públicas de saúde mental nas escolas. Canadá e Austrália debatem o assunto desde a década de 1970. No Brasil, em Londrina, um projeto que promove Ciclos de Diálogos nas escolas vem colhendo excelentes resultados.
A crise de ansiedade coletiva nas escolas é um problema que tem afetado cada vez mais alunos em todo o mundo. No entanto, é possível lidar com essa situação de forma efetiva, adotando medidas preventivas e de apoio psicológico aos alunos afetados. Além disso, é fundamental que a escola e a família trabalhem juntas para minimizar os gatilhos que podem desencadear a crise de ansiedade coletiva.
“Estes não são fatos que devem ser ignorados, mas pelo contrário devem ser mais estudados e debatidos pelos profissionais de educação e saúde. Estes alunos foram vítimas deste medo grandioso e que afetaram e afligiram o coração deles e isto tem sua gravidade” finaliza.
Esperamos que as dicas apresentadas neste artigo sejam úteis para ajudar a lidar com esse problema de forma mais efetiva.
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