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Colunista

Por que buscamos a Beleza?

Mutável com a época, a cultura e o local, a Beleza está relacionada com a autoestima e autoafirmação.


👤 Rafael Sávio
🕓 25/07/2022 - 19:30


A Beleza remota da antiguidade. Na mitologia grega, Afrodite era considerada a deusa da Beleza.
Foto: Dimitris Vetsikas por Pixabay

Olá leitor, já dissertei em textos passados sobre a importância e a utilidade da beleza, inclusive sobre como envelhecer. Mas o que é Beleza? Quem define os padrões de Beleza? O que define se algo é belo ou não? Qual a história que fez a humanidade buscar pelo belo?

A Beleza é dita como uma qualidade, virtude e característica, que desperta sentimentos de prazer, admiração e até êxtase. O que pode incluir paisagens, obras de arte, seres humanos. Mas este é um modo extremamente vago e simplista de conceituar, como dito em outro texto de minha autoria. O gosto e a beleza são temas frequentes de diversas obras, filosofias e análises. No entanto, quero aqui, conceituar os padrões do belo, junto à estética e a Cirurgia Plástica. O porquê de se correr atrás de tal característica e o que à define.

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Na mitologia Afrodite (deusa da beleza) nasce do mar, tem como característica a imortalidade, a expressão da natureza e do amor que pode ser eterno ou efêmero. Vênus, na cultura romana (a mesma que Afrodite) é disputada por deuses e homens. Capaz de levar à guerras e também paixões. Até mesmo Marte, deus da guerra (o mesmo que Áries) é vencido por Vênus, inclusive gerando um filho: o Cupido (Eros, deus do amor e paixão).

Essa história inicial mostra porque a cirurgia plástica tem Vênus como sua “modelo” simbólica, já que o culto à beleza de Afrodite, pode ainda ser visto nos dias atuais, diante daquilo que a especialidade representa. Por meio de procedimentos cirúrgicos, essa busca por empoderamento, sedução, beleza e desejo das pessoas, transformando-as em alguma semelhança à “novas Afrodites”.

Mas o que é Beleza? O mundo todo ainda se aventura nesta questão. Uma definição praticamente impossível, já que a grandeza da resposta, só pode ser percebida através dos antagonista da beleza, de onde ela não está presente. Pois a beleza é ambígua e nisso foge qualquer definição além de fascinar. A única coisa eternizada na história da humanidade é a Beleza. Talvez a única que atravessa o tempo.

Existe uma Beleza universal ou a beleza está ligada aos diferentes períodos históricos? Cada época e lugar estabelece os critérios próprios para definir o que é considerado belo. Logo se nota o conceito mutável, ambíguo e subjetivo do que é considerado belo, dependente do contexto histórico, social e cultural de onde o indivíduo está inserido, bem como suas variáveis biológicas. Historicamente, o padrão de beleza sempre se baseou no que determinada sociedade considera símbolo de saúde ou juventude e expressa uma época e seu próprio sentido de contemporaneidade.

O padrão de beleza feminino, por exemplo, tem mudado bastante ao longo do tempo. Na Grécia antiga, o modelo ideal valorizava medidas proporcionais, como pode ser visto nas obras artísticas que retratam mulheres de seios fartos, quadril largo, coxas grossas e cintura larga, simbolizando fertilidade. Já nos anos 80 e 90 o padrão supunha mulheres altas, magras, com curvas na medida certa onde se valorizava os seios, o que iniciou a busca pelo silicone. Atualmente no século XXI, existe ênfase para o corpo magro, saudável e até sarado.

Para a sorte dos homens, o padrão estético masculino se mantêm mais constante e até imutável no decorrer dos séculos. Não se vê diferenças grandes entre David de Michelangelo e o Super-Homem dos quadrinhos. Nos dias de hoje, os últimos desfiles e semanas de moda, mostram que as modelos mais atraentes são frutos de relações raciais muito distintas, que até pouco tempo atrás seriam impensáveis, afinal questões culturais, físicas e geográficas se globalizaram. A internet “uniu” o mundo.

O Cirurgião Plástico atual e moderno, hoje aconselha seu paciente a realçar seus traços de maneira natural, sem descaracterizar sua aparência e herança genética. Honrando a diversidade e a individualidade de cada um. Afinal a moda passa, mas as cicatrizes ficam.

Na sociedade atual, estar dentro dos padrões estéticos também está relacionado à existência de um poder social, transmitido pela aparência. Na cirurgia plástica, abordar um paciente sem levar em conta o contexto histórico, social e cultural em que está inserido o paciente seria um contrassenso. Um aspecto relevante que traz a cada consulta uma abordagem única, individualizada e com possibilidades de fracasso ou sucesso, independente da maneira semelhante que se façam às orientações e prescrições médicas.

A busca de um corpo harmonioso é fundamentada no desejo de atrair e ser aceito. O fato de não ser amado reduz o sentimento de autoestima, enquanto o de sê-lo aumenta. O indivíduo atual é estimulado à competição, e os cuidados com o corpo é um recurso para isso, pois quando cercado por outros, podem percebê-los como objetos de identificação e admiração, assim como de rivalidade. Existe outro fenômeno a ser analisado: o auto sacrifício, a que se submete o corpo, para corresponder aos ideais estéticos de um dado momento: corseletes no século XIX, anorexia nos séculos XX e XXI.

Atualmente os indivíduos se sentem como que reduzidos, submetidos aos ditames de padrões, antes ditados pela moral da igreja, hoje pela mídia, redes sociais e pelas grifes. Em troca de sacrifícios, o indivíduo espera receber a admiração do seu semelhante e da sociedade, portanto busca-se o personagem projetado pelas mídias e a apropriação de uma imagem idealizada. Já na adolescência, quando há necessidade de signos de identificação e pertencimento, esta situação costuma ser mais intensa.

Inegavelmente, a expressão física de uma pessoa é um indicador de sua relação consigo mesma, sendo assim existem aqueles que copiam padrões, que se colocam num lugar passivo, existindo somente para satisfazer o desejo dos outros e há os que seguem tendências que refletem a atualidade, mas que são capazes de manter sua alteridade nessa interação, transcendendo o paradoxo da necessidade de pertencimento com distinção e independência, correspondendo a posse de um ego maduro, resultado de identificações bem sucedidas e integradas à personalidade. Estes refletem sintonia entre o mundo interior e sua imagem corporal.

Então diante do exposto, se a beleza é a expressão do saudável, o ser humano sempre teve e terá o medo de perdê-la. Medo da doença, que tira a vida e a beleza. Portanto sempre haverá a confiança na medicina que devolve a saúde e a vida. Em todos os tempos e sociedades, sejam grandes ou pequenas, existiam a figura de seu médico, guru, bruxo, xamã, curandeiro ou quem quer que esteja em condições de ser alvo das ansiedades de quem busca saúde e até perfeição.

Hoje o profeta que anuncia o advento da beleza é o cirurgião plástico.
O cirurgião plástico, como diz na especialidade, é aquele que pode vencer a maior das doenças, pior que a própria morte (já que esta é inevitável), pode vencer a desarmonia do corpo. A ele se clama para que o tempo seja apagado, para que a vontade de viver volte.

Ao nosso profeta, por sua vez, quais os pedidos deveria aceitar? Ou melhor, quais pedidos não deveriam ser solicitados à sua capacidade técnica, por tão grande que seja. Quanta responsabilidade compete-lhe na compreensão da identidade morfopsíquica de cada pessoa que lhe procura? Qual o ponto de equilíbrio, entre técnica e estética, entre subjetivo e objetivo, entre padrão universal e individual? Algumas coisas se aprendem somente com o sofrimento por se querer melhorar.


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