Uma das perguntas recorrentes que me são endereçadas aponta para a elucidação sobre a abrangência da Psicanálise e para sua distinção em relação entre a Psiquiatria e entre as demais correntes da Psicologia. E não têm sido raras ás vezes em que recebo em meu consultório pacientes que têm a concepção de seu mal-estar subjetivo somente pode ser tratados por um psicanalista! Elas a consideram como uma forma de abordagem mais profunda, assim como costumam dizer. Em função destas demandas e por acreditar na necessidade de esclarecer o público sobre as distinções entre estes três campos de saber que lidam com as experiências psicológicas humanas, foi que decidi abrir minha coluna no Triângulo Notícias com um pequeno texto informativo sobre tal distinção. Portanto, nesse pequeno texto, meu interesse é dar enfoque à Psicanálise, a partir do que me é dirigido. Contudo, passarei pelas demais áreas da psicanálise, mas de forma abreviada.
A Psiquiatria, a Psicologia e a Psicanálise compõem um campo de conhecimento que visa abordar aquilo que, de maneira geral, nós costumamos chamar de ou psiquê, ou de mente, ou vida anímica. Apesar de visarem à saúde mental dos pacientes, cada uma delas trata disso a partir de um referencial específico. Garantindo que elas não se sobreponham umas às outras e mantenham uma orientação própria.
A Psiquiatria surgiu na França em meados do século XVIII, como um saber organizado. Hoje em dia, ela é uma especialização decorrente da formação médica e com quadros de sofrimento mental agudos ou crônicos que necessitem de medicações para a regulação neuroquímica dos sintomas. Diante desta necessidade, somente o médico está apto a prescrever medicamentos, sejam eles antipsicóticos, antidepressivos ou ansiolíticos. Já a Psicologia, surgiu na Alemanha por volta de 1879, a partir de experimentos feitos por Wundt para verificar a modulação dos comportamentos humanos. A partir das várias correntes que ramificaram desta experiência e que hoje formam a imensa colcha de retalhos que é a Psicologia, podemos dizer que ela é uma ciência que tem nos processos da consciência e, por vezes, dos comportamentos e da cognição o seu maior foco teórico e prático para abordar. Por isto, atualmente, a encontramos algumas de suas correntes cada vez mais vocacionadas a tratar de forma específica de sintomas específicos. Mas e a Psicanálise?
Quando nos referimos à Psicanálise, estamos dizendo de um dispositivo de abordagem ao mal-estar subjetivo, distinto das Psicologias. Ela foi concebida por Sigmund Freud no início do século XX e tem nos processos inconscientes seu objeto de abordagem. Talvez daí provenha a noção popular de que a Psicanálise se ocupa de algo mais profundo. Afinal, trata-se de um dispositivo que, a partir da fala do paciente, irá abordar a construção de um saber sobre si e sobre o sofrimento que lhe aflige, antes de buscar a retirada dos sintomas. O psicanalista está atento à necessidade de apaziguar o sofrimento de seu paciente. Mas como fazer reformar uma casa sem conhecer seus cômodos e alicerces? Portanto, necessitamos fazer a construção de um saber não sabido, tal como nos indica o psicanalista francês Lacan, grande teórico revolucionário da psicanálise a partir da década de 1940. Este saber é alcançado tanto através do que chamamos de associação livre de ideias, quanto por intervenções precisas do psicanalista sobre o que é dito. Neste sentido, a única regra imposta ao paciente é que ele diga tudo o que lhe passa pela cabeça, sem censuras e o que se busca manter paciente e analista afastados de qualquer relação imaginária de julgamento aos atos e pensamentos.
E o que se trata em uma sessão de psicanálise? Para o psicanalista não importa tanto qual é o transtorno do paciente. A visada do tratamento é no sujeito que sofre e na função exercida em sua vida pelos sintomas que ele traz. A perspectiva disto? Um tratamento à medida de cada sujeito, sem receitas prontas e que permite uma invenção possível à vida de cada um de nós.
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